Pesquisa em Desenvolvimento
(alterar essa frase quando eu aqui não mais existir)
"Através da materialidade textual e do jogo entre os atores, desenvolve-se a Organicidade cênica"
Études é um procedimento desenvolvido por Maria Knébel e por Stanislavski, nas palavras dela o ator irá "apropriar-se dos acontecimentos desde os primeiros passos do trabalho sobre o papel, sem separar o psicológico, interior, do físico, exterior" (in KNÉBEL, Maria O. Análise-Ação, p. 51)
Essa é a definição da qual parto para desenvolver o meu próprio procedimento, afinal de contas, a própria Knébel diz que o trabalho dos que vierem depois dela não é o de repetir sua pesquisa, mas sim ter conhecimento do caminho percorrido e seguir o que não foi caminhado.
Então apresento de forma simples e resumida, os princípios da minha encenação:
"Texto; Obra Aberta; Dialética; Pérolas de Memórias"
Parto sempre da materialidade do texto, ou seja, todos os meus espetáculos têm um texto referência.
Apesar disso, sempre se trata de uma obra aberta, onde a interferência é bem vinda e estimulada.
Os atores não têm acesso ao texto base durante o processo de criação. Eles sabem e leram o material, mas durante os ensaios, esse material não é revisitado.
A aproximação com a obra é através dos études, ou seja, através da improvisação tendo a disposição os Acontecimentos do fragmento em estudo.
Para permitir a dialética obra-ator, desenvolvo outros tipos de études, oferecendo menos acontecimentos aos atores, permitindo que eles descubram novos caminhos e soluções (distanciando-me da Knébel e aproximando-me do Vassiliév).
As "Pérolas de Memória", esse é o conceito que venho desenvolvendo atualmente na minha pesquisa, trata-se de possibilitar uma vivência de relação entre personagem-ator através da criação de cenas que não fazem parte da dramaturgia original.
Como possibilitar que atores que nunca trabalharam juntos antes possam levar ao espectador a relação de dois irmãos, de um casal apaixonado ou a se odiarem ao ponto de quererem vingar-se.
"Construindo Memórias"
As Pérolas são pequenos études livres onde o que é proposto é um fato.
Exemplificarei através do texto Hamlet de Sheakespeare.
Em Hamlet, Laerte e Ofélia são irmãos, devida as funções de seu pai Polônio, Laerte assume um papel parental com sua irmã, os dois são próximos, cumplices um do outro.
Como, enquanto diretor, posso trazer organicidade para essa relação através das pérolas de memória?
Propondo que os atores façam études com temas como "a brincadeira favorita deles"; "Se Laerte chegasse bêbado da taverna, como Ofélia cuidaria dele?"; "Se Ofélia se ferisse no jardim, como Laerte cuidaria dela?".
Essas são apenas algumas propostas teóricas para exemplificar o que são as Pérolas de Memória.
Esses études não irão, a priori, pro espetáculo final, mas, ao buscar a experiência do étude, poderão aproximar-se da organicidade cênica.
Porém, por tratar-se de uma obra aberta, é possível que alguma, ou algumas dessas cenas entrem no resultado final do espetáculo.
Tive minha formação no Sistema Stanislavski, pois essa é a base da formação das escolas de teatro no Brasil.
Porém, com o passar dos anos, vivenciei uma relação de amor e ódio pelo sistema, ao lidar com a contemporaneidade dos espetáculos, passei a questionar se esse sistema pelo qual me formei ainda era suficiente para realizar as cenas do Teatro de hoje.
Aqui é preciso fazer uma contextualização temporal, o material sobre o sistema que existia a época, eram apenas os três livros do Stanislavski, editados pela extinta Civilização Brasileira e que foram traduzidos da edição em inglês pelo Professor Francisco Pontes de Paula Lima.
Como sabemos hoje, essas traduções, apesar de bem feitas, trazem alguns equívocos de concepção que só foram revistas nos últimos anos (a edição da Martins Fontes só foi lançada em 2017).
Partindo então dessa inquietude enquanto artista-pesquisador, ingressei numa especialização em direção teatral, onde pude trocar com diversos colegas, métodos e sistemas e pensamentos da encenação.
Certo dia, tive contato pela primeira vez com o conceito de Études, apresentado pela atriz e diretora Luah Guimarães.
O pensamento da diretora e pedagoga teatral Maria Knébel encaixou em minhas angustias e mostrou-me um caminho para desbravar novos rumos.
Tornei-me então um pesquisador sobre sua proposta de pesquisa, estudei sobre ela, sobre os que ensinaram ela e sobre quem ela ensinou.
Criar através de Études, possibilitou que eu produzisse de forma autoral espetáculos que tem em seu cerne a organicidade da contemporaneidade, resultando em um material de "autorariedade" que é irrepetível, pois parte da dialética entre obra-ator-direção
Para te convidar a viajar, te apresento a base do meu pensamento.
Poderia citar as obras, mas trata-se muito mais das pessoas.
Dos que pensaram:
Maria Knébel; Constantin Stanislavski; Nemirovich-Danchenko; Mikhail Chekhov
Dos que pensam:
Anatóli Vassiliev; Elena Vássina; Anne Bogart; Diego Moschkovich; Antonio Araújo; Janaina Leite